quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Vermelho, cor do amor.

    Eu sei que vermelho é "cheguei" demais, mas vermelho é a cor preferida do Daniel. Se ele conseguisse ler esse blog, certamente exigiria que eu colocasse vermelho em... Tudo. Tudo e ainda mais. O quarto do Daniel é vermelho, as camisas preferidas dele também são e, ano passado, eu lhe dei um All Star vermelho caríssimo - que o sem vergonha nem usa porque está agora com mania de usar sapato social para ir até à padaria.
      Sempre que lhe perguntamos o porquê de gostar tanto de vermelho, a resposta é simples:
      - Ué, porque vermelho é a cor do amor né, Bruna, lógico.
    "Lógico". O Daniel fala "lógico" como se todas as verdades fossem inteiramente, totalmente e particularmente dele. E elas são. A verdade, o sorriso mais bonito e verdadeiro, a voz rachada igual a do Bruno do Bruno e Marrone (Daniel é fã de Bruno e Marrone), o charme de artista (Daniel é artista e faz shows na sala de televisão imitando - e chegando bem perto, eu devo dizer - tudo o que vê no DVD da dupla), a escolha do que será o lanche do dia, o canal da televisão, a roupa com a qual eu vou para a faculdade, a roupa com a qual eu vou para o trabalho, a roupa com a qual qualquer um vai para qualquer lugar. O mundo inteiro pertence a ele. Se ele tem seu próprio mundo, a quem mais poderia pertencer? 
       Daniel é meu irmão. Cinco anos mais velho que eu por fora e cerca de dez ou quinze mais novo por dentro. Ele não tem nenhuma das síndromes conhecidas, não tem autismo ou deficiência física. Dani tem algo como um pouco de cada uma dessas coisas devido a uma "não-oxigenação" do cérebro pouco depois de nascer. Ele fará vinte e quatro anos este ano, mas sua mentalidade (como de todas as crianças especiais) é de uma criança. Às vezes, ele parece ter dez, quinze, doze, setenta, cem anos... 
         Ele é uma caixinha de surpresas.
      Não se sabe o que esperar do Daniel nunca. E esse é o maior presente que alguém poderia ganhar na vida. Ele faz com que os dias de quem convive com ele sejam únicos, mesmo aqueles dias mais monótonos e cansativos. 
      Mas o Daniel, às vezes, é irritante. 
      Eu também sou. 
     Nós nos irritamos juntos, rimos juntos, brigamos juntos (e separados, de vez em quando, também), comemos juntos e, nos finais de semana, ele exige que eu o convide de forma requintada para dormir em meu quarto. Mas faz charme para aceitar.
       - É... Tá bom... Eu aceito dormir lá, tá bom assim? Talvez eu ainda tenha que pensar no seu caso um pouco, mas, se der, eu durmo lá.
      Safado. 
      Cada dia é uma nova experiência com ele e, com isso, cada dia uma nova história.
     O Daniel me fez o ser-humano que eu sou hoje e me mostrou, à maneira dele, que o mundo inteiro deveria ter metade do que ele tem para que comece a se ajeitar.
     Não conhecemos o mundo inteiro, sei disso, mas cada par de olhos que ler os textos sobre o encanto que é o meu irmão já será uma parte dele que passaremos a conhecer. E que passará a conhecer o Daniel.
      Quem sabe assim não se contagiem com o vermelho do amor sobre o qual ele tanto fala.
    

2 comentários:

  1. Adorei o blog! Muito bem humorado, carinhoso e uma verdadeira declaração de amor entre irmãos!
    Beijos
    Clarice

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  2. Muito obrigada pelo carinho, Clarice!

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