quarta-feira, 20 de março de 2013

Zoo

    Ano passado a minha mãe decidiu que aprenderia a costurar. Sabendo ou não sabendo dominar aquela "coisa", que ela chama de máquina de costura, mamãe disse que faria novas fronhas de travesseiro para mim e para o Dani.
      - Vou comprar um tecido de vaquinhas para a Bu e um de futebol para você, Dan.
      - Tá doida, mãe? Não quero fronha de futebol não. É feio!
      - Por que não, filho? Você não gosta de futebol?
      - Gosto, né, mãe, mas eu quero uma fronha de flor.
      - Mas de flor, filho? Você não acha que flor é de menina não?
      - Lógico que não, mãe! Tá doida? Coisa de menina. Não é coisa de menina não! Flor é jardim, mãe! Você não sabe? Jardim. Eu quero dormir em um jardim.
      E ele dorme mesmo. Daniel sempre foi poético.

    Além de a fronha, o lençol e o edredom serem de flores (detalhe que vocês podem também observar no layout desse blog), ele dorme com uma infinidade de amigos que só se encontraria em um jardim. O quarto do Dani é cheio de bichos. Todos têm todos seus respectivos pares - Daniel acha importante cada brinquedo ter seu companheiro(a) para que não se sinta sozinho - e recebem nomes especiais.
     Não tenho como citar todos, mas alguns dos mais importantes são o Tico e a Tica, um casal de golfinhos de pelúcia que, para o Daniel, são passarinhos e botam ovos - e vai tentar dizer que o rabo deles não é de fato um par de asas para ver o que é bom! Uma semana com os dois golfinhos bicando nossa cabeça durante a noite.
     Tem a Meg e seu marido Tonico, ambos são dálmatas, mas o Dani insisti em tratá-los como dois filas muito bravos. A Meg já está na segunda versão, é mais velha que eu e, infelizmente, a primeira versão resistiu bem somente durante os primeiros 17 anos de existência. Acabou sofrendo algo como uma desmaterialização no 18º e 19º. Ela tem tanta vida própria que, muitas vezes, todos nós nos pegamos conversando com ela e com seu marido, alimentando-os, dando presentinhos, levando mordidas e dando broncas.
     O Eduardo e a Michele são partes constantes dos nossos dias, um casal muito distinto de uma Barbie ruiva e o senhor Max Steel vestido com um terno e chapéu de cowboy. Eduardo é policial, vaqueiro, motorista, cantor e cozinheiro. Quase tantas profissões quanto o Dani. Eles têm mais ou menos uns doze filhos e filhas, todos com vozes um tanto quanto agudas e irritantes, Daniel alcança um agudo incrível, estilo Cindy Lauper. Eduardo e Michele são, verdadeiramente, integrantes da família. Vira e mexe o casal, sua penca de filhos, eu e o Daniel fazemos festas de arromba em meu quarto com muita música, luzes e comida furtadas da geladeira quando mamãe não estava olhando. 
      Há um casal de salsichas, Safira e Bily, que latem muito e não gostam que a gente encoste em seus rabos. Inicialmente, a mamãe comprou um salsicha de pelúcia apenas, isso foi em uma vez que fomos ao cinema com o Dan e ele se recusou a entender que no cinema, por mais que ele peça, não vão acender as luzes. Ele ficou bravo, quis largar o filme e ir lanchar. Depois de lanchar, foi à loja de brinquedos e se apaixonou pelo salsicha. Ele agarrou dois, um em cada braço, e insistiu para que a mamãe não separasse os dois amantes. Ela tentou convencê-lo (obviamente, sem sucesso) de que não tinha dinheiro para levar os dois e, então, comprou só um. Daniel falou sobre a fêmea abandonada na loja de brinquedos e de todos os perigos que ela corria sem seu marido por perto até que nós, emocionados (ou de saco cheio), praticamente quiséssemos comprar todo o estoque de salsichas da loja. 
     Há um casal de pássaros que, de fato, são pássaros e não, golfinhos. Novamente, minha mãe cometeu o erro de comprar apenas um, por quem o Dani se apaixonou. Minha avó foi a responsável escolhida educadamente - por trezentas ligações melodramáticas do Daniel - para encontrar a esposa do senhor passarinho de cujo nome não me lembro. Pode parecer fácil encontrar a fêmea para aquele macho abandonado, mas o Daniel é um tanto exigente. A fêmea tem que ser parecida, mas não pode ser igual. Ele encontra diferenças na costura, na altura dos olhos, em uma manchinha minúscula de sujeira e, se os dois brinquedos forem exatamente iguais, ele pega o pincel atômico escondido e faz com que se tornem, minimamente, diferentes. Vovó, porém, não achou a tal fêmea. Nem igual, nem diferente. Comprou um pinguim muito parecido com o formato do pássaro solitário, tendo esperanças de que o Dani não iria perceber. 
       - Legal esse passarinho, vó, mas ele é diferente, né?
       - O, meu filho, é não... É diferente porque é a fêmea.
       - Engraçado, vó. Não parece a fêmea.
       - Não, meu grandão?
       - Não, vó... Isso aqui parece um pinguim. A senhora comprou errado. Agora tem que trazer a fêmea do meu passarinho e um macho para esse pinguim aqui. 
     

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