quarta-feira, 27 de março de 2013

Chicrete

       Cheguei em casa e o Daniel estava na porta me esperando. Eu e o Vítor descemos do carro e ele veio pulando e correndo todo feliz. Achei que era por me ver, mas ele tratou logo de abraçar o Vítor - como sempre.
       - Olha, Dani, fiz minha tatuagem!
       Ele só parou para me dar atenção na segunda, quando o Vítor não estava mais por perto.
       - Olha, Dani, fiz minha tatuagem!
       - Hm. Deixa eu ver.
       - Daniel do céu, não pega não, homem! Dói! Vê com os olhos.
       - O que é isso mesmo?
       - Um balão!
       - Balão de encher?
       - Não, balão de voar.
       - Acho que eu não gostei não, Bruna.
       - Não?
       - Não, muito feio isso aí.
       - Poxa, mas é vermelho. Sua cor preferida. 
       - É sim.
       - E mesmo assim você não gostou?
       - Gostei não.
       - Por que?
       - Não dá para tirar?
       - Dá não, Dani. Agora já era. Eu gostei tanto, tem certeza de que você achou feia? Não quer ver direito não?
       - Quero não, mas deixa eu ver direito.
       - DANIEL, TIRA ESSE SEU DEDÃO DAÍ! VÊ COM OS OLHOS!
       - Precisa gritar?
       - Uai. Você não ouve. E isso dói, sabia?
       - Dói nada. Mentira sua. Eu já fiz tatuagem e nem doeu.
       - Doeu não? E que tatuagem foi essa que você fez e eu não estou sabendo?
       - Dã... De chicrete, né, Bruna?
       - A! Claro... De "chicrete". Essa não dói mesmo não.
       - Vou fazer outra tatuagem de chicrete. Se ficar feia igual a sua, eu tiro.
       - Tira? Tira como?
       - Com a unha, ué. Arranha assim ó.
       - Só fala, Dani, não precisa me mostrar!
       - Tá. Assim, ó! (arranhando o ar)
       - Hm, entendi. É, assim ela sai mesmo.
       - Vamos tirar a sua?
       - Não dá, Dani. Essa foi feita com agulha.
       - Agulha? E tinha chicrete na agulha?
       - Tinha chiclete não, tinha tinta....
       - Então dá para tirar, Bruna!
       - Dá não, Dani.
       - Dá sim! Eu sei fazer. Já aprendi!
       - Aprendeu? Como é?
       - Fácil! Igual eu tiro a de chicrete, olha!
       - DANIEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEL, NÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃO!



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