Daniel fez aniversário no dia trinta e, como foi feriado na sexta anterior, estávamos no rancho. Para quem não sabe, o rancho é o lugar onde acampamos onze de dez feriados existentes. Estávamos no rancho e, como toda boa criança, Daniel queria festa de aniversário com "risólio" e coxinha. Eu o convenci de que não era possível fazer "risólio" ou coxinha com os poucos recursos oferecidos pela Serra da Mesa e ele aceitou a situação quando eu lhe disse que faria bolo sabor prestígio e cachorro quente com molho feito no liquidificador. Daniel só gosta de cachorro quente com molho batido no liquidificador, ele diz que é mais lisinho.
Passei a tarde fazendo aquele negócio enquanto todos pescavam no lago. Uma trabalheira danada. No final da tarde, o Dani veio correndo, deu-me um abraço mais do que delicioso como quem sentiu saudades a tarde inteira, olhou para mim e disse "E aí, meu bolo está pronto?". Estava, né, claro que estava. Mas custava dar um beijinho e dizer só "Eu te amo! Senti sua falta... Agora me diga cadê o meu bolo?".
Ele me contou sobre a pescaria, contou sobre os peixes que não pegou, sobre o sol, sobre o Vítor ser o campeão de pesca, sobre o Chiquinho (peixinho do tamanho de uma unha que ele ganhou do Vítor após o coitado ter enroscado-se na camisa dele), sobre minha mãe só pegar tocos, sobre meu pai ser bom pescador e, no intervalo de uma coisa e outra, ele sempre dava um jeito de encaixar o bendito do bolo no assunto.
- Meu pai pesca muito! Vai ser bom comer os peixes que ele e o Vítor pegaram, né, Bruna?
- Né, Daniel, agora levanta o braço para lavar esse sovaco aí!
- Mas quando come tem que ter sobremesa, né, Bruna?
- Né, Dani, agora o outro braço.
- E a sobremesa pode ser meu bolo, né, Bruna? Onde ele está mesmo?
Depois de incontáveis escapadas no assunto para falar do bolo, ele finalmente viu o bolo. Adorou! Arrumei a mesa com o bolo, os pratos, copos, sucos, refrigerantes, cachorro-quente, pães, milho e ervilha, Eduardo, Michele, Chiquinho, guardanapos e uma caixa de chocolates. Tudo junto mesmo. Cantamos parabéns e fomos, finalmente, comer o bolo.
Daniel adorou, comeu vários pedaços e falou inúmeras vezes que estava muito gostoso. Antes de dormir, já dentro da barraca, porém, ele me disse:
- Ô, Bruna.
- Oi, Dani.
- O bolo estava muito gostoso.
- Que bom que gostou, fiz com carinho.
- Obrigado.
- De nada.
- Mas ô, Bruna...
- Que, Dani?
- Você não colocou vela. Bolo de aniversário precisa ter vela. Sem vela, não é bolo de aniversário. Você vai ter que fazer outro amanhã para mim.
- Ô, Bruna.
- Oi, Dani.
- O bolo estava muito gostoso.
- Que bom que gostou, fiz com carinho.
- Obrigado.
- De nada.
- Mas ô, Bruna...
- Que, Dani?
- Você não colocou vela. Bolo de aniversário precisa ter vela. Sem vela, não é bolo de aniversário. Você vai ter que fazer outro amanhã para mim.
Nenhum comentário:
Postar um comentário