sexta-feira, 12 de abril de 2013

Aniversário parte dois - a câmera

       Daniel ganhou presentes muito legais. Eu e o Vítor demos uma câmera fotográfica para ele. É uma câmera de verdade, porém para crianças. Emborrachada, protegida, resistente e forte. Bem forte. É assim que deve ser. Daniel adora fotografar! A tal câmera é a imagem que mais temos visto ultimamente. Não há uma só situação que ele não queira registrar. Mal dá tempo de abrirmos os olhos e lá está ele, fotografando novamente! Isso me lembra uma vez que eu morri de rir com o Daniel por causa de uma câmera.
       Estávamos no rancho, já no dia de voltar para casa, arrumando as coisas em caixas e limpando tudo. Dani estava passeando por todo o local e registrando cada coisa bonita que encontrava pelo caminho. É muito interessante ver as fotos que ele tira, porque é como ter uma visão de como ele enxerga o mundo. Ele clica todo o tempo, então podemos facilmente saber qual o seu trajeto e quais os pontos para os quais olhou enquanto andava. Mas, nesse dia, ele voltou com a roupa toda suja de terra.
       - Daniel, você caiu?
       - Caí não, Bruna...
       - E essa roupa suja, Dan? Deixa eu levantar o short e ver seu joelho.
       - Não, eu não caí, Bruna. Só estou passeando. 
       - Tudo bem, mas deixe eu ver essa perna aqui.
       - Não. Vou ali ajudar a tia Neuza com a comida. 
       E deixou a câmera em cima das caixas. Eu e o Vítor a pegamos e começamos a ver as fotos. Era inacreditável. O céu, várias flores, a cerca, as pedras, o carro, a porta, a mão na maçaneta, a porta aberta, eu e o Vítor guardando as comidas na caixa, nossas cabeças, a porta, a porta sendo fechada, a maçaneta, o chão, o chão, o chão, a tia Neuza, a panela, a comida, a tia Neuza de novo, a cerca, o chão, o chão, o chão, a árvore, o céu, o céu, o céu, o céu, de repente um borrão, uma poça de lama bem de perto, as pernas esticadas no chão, os pés sujos de barro, o dedão do pé ralado, a canela suja, o joelho com o short em cima, as mãos puxando o short, o joelho todo ralado, a coxa ralada com o short pela metade, o short sendo puxado um pouco mais, a coxa esfolada até lá em cima, a poça de lama, a mão no chão fazendo força, a cerca, a árvore, o carro, a porta, a mão na maçaneta, a porta aberta, eu e o Vítor guardando as comidas na caixa... 
       Peguei a câmera e fui até ele. 
       - Daniel, você caiu?
       - Caí não.
       - Caiu que eu sei, Dani. Deixa eu ver. 
       - Não caí, Bruna!
       - Dani, deixa eu te mostrar essas fotos aqui.
       - Ixi, Bruna. Teve jeito não. Você me descobriu, ein?
       - Descobri, Daniel, você caiu feio.
       - É verdade, eu caí tirando foto, mas você viu? Eu sou frotrógafo!


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